André Lefébvre é uma lenda dos círculos automotivos franceses. Engenheiro aeronáutico por formação, trabalhou com Gabriel Voisin em aviões e automóveis, antes de um período breve na Renault.
Em seguida mudou-se para a Citroën, onde atuou na concepção de alguns dos veículos mais marcantes da história francesa, como o Citroën Traction Avant, o Deux Chevaux, o DS e o HY, uma van de entrega que, inclusive, fora destaque no programa “Joias Sobre Rodas”, do canal Discovery.
Citroën HY
A ideia de Lefébvre era projetar um carro familiar, de baixo custo, voltado para o futuro. O projeto começou em 1953 com uma tentativa de alargar a linha de produtos da Citroën e criar um carro para cruzar as novas estradas que estavam sendo pavimentadas na França.
Lefébvre, então, organizou uma equipe e elaborou um esboço do carro. Ele deveria ter amplo espaço para abrigar quatro passageiros e bagagens, tração dianteira e capaz de acelerar até 100 km/h, sendo econômico. Os custos deveriam ser baixos suficientes para o veículo ficar ao alcance de uma família que não poderia pagar pelo DS, por exemplo.
A equipe de Lefébvre contou com algumas das estrelas de engenharia da Citroën. Andre F. Estaque seria responsável pela estrutura, colocação do motor e transmissão; Alain Roche seria o responsável pela suspensão. Flaminio Bertoni, o lendário designer da Citroën, foi convocado para o projeto, mas Lefébvre queria manter o desnho do veículo próximo a ele, então assumiu pessoalmente essa parte.
O resultado de um intenso processo de planejamento foi um automóvel em forma de gota d’água, que logo ganhou o apelido de “Coccinelle” (Joaninha). O desempenho aerodinâmico teve um papel importante no projeto, e sua carroceria fora construída em fibra de vidro em uma estrutura leve de metal. As portas eram divididas em estilo “gullwing” e de abertura tradicionais.
O motor e a transmissão foram colocados debaixo dos assentos dianteiros. A área envidraçada, em material chamado Perspex, não tinha pontos cegos para o motorista. Porém, o material era facilmente riscado, portanto os limpadores foram eliminados. A aerodinâmica do para-brisa supostamente desviava a água e neve.
A série C, como ficaria conhecida, teve seus problemas. Todo o peso sobre as rodas dianteiras, mais um par de passageiros, fez a distribuição de peso ficar desequilibrada, um problema que levaria a um acidente de um dos protótipos do automóvel.
Lefébvre então sofreu um derrame e uma paralisia no lado direito de seu corpo. Ele seria forçado a se aposentar da Citroën e passar o resto de sua vida tentando se recuperar. Ele treinou para usar a mão esquerda e ainda fazia trabalhos como freelancer, mas seus dias no mundo automotivo ficaram para trás.
Sem a voz forte de Lefébvre apoiando o projeto, o Conselho da Citroën optou por escolher um veículo projetado por Bertoni, que ficaria conhecido como Ami 6, um sucesso na França.
Citroën Ami 6
Fonte e fotos: www.cardesignnews.com / www.hellmotor.com