Na edição 57 da Revista Classic Show demos continuidade à história do Tucker, uma investigação que está dando o que falar. Graças ao amigo Eduardo Lambiasi, de São Paulo, viemos a descobrir um funileiro que trabalhou na finalização da adaptação do Tucker 1035. Danillo Gazzi nos concedeu uma entrevista e nos contou histórias incríveis sobre o carro e seu proprietário então, Joseph Molitor. Além disso, conforme você pode ler na Revista Clasic Show, a própria história de vida de Danillo já é um roteiro de filme e ajuda a contar a história do automóvel no Brasil. Acompanhe abaixo mais algumas histórias curiosas do funileiro:
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Nos anos 60 Danillo foi um dos precursores a introduzir a massa plástica automotiva no Brasil sob a sua marca, chamada Complast. “Descobri isso por acaso, quando estava trabalhando em um Corvette. Tivemos que importar o material dos EUA (resina, talco e fibra) para fazer o conserto, pois o carro tinha carroceria de fibra de vidro. Comigo trabalhava um funileiro muito displicente: com o que sobrou do material ele tapou uns buracos de podre um Dodge que estava na oficina. Eu fiquei abismado com a porcaria que ele tinha feito, mas aquilo ficou firme, e vi que se fosse usado só para dar um acabamento final, podia substituir o estanho. Desenvolvi um composto com base em pó de mica, que fazia a massa resistir até 90 graus de temperatura. O duro mesmo foi pôr na cabeça dos funileiros da época que aquilo era bom”, lembra ele. “A massa era tão boa e durável que a gente podia até fechar um selo de motor rompido que nunca mais abria; consertei até radiadores com ela”, afirma ele que também nos conta que muitos o chamavam na época de “Rei da Massa Plástica”. Muito modesto, ele fala que isso é bobagem, mas sabemos a importância do fato. Nos anos 70 Danillo foi trabalhar na empresa Decaleo, especializada na manutenção de carros da marca DKW Vemag. “Tenho uma passagem engraçada na Vemag. Lembro de que não havia gabarito para endireitar certas peças do DKW, algumas vinham com defeitos de montagem de fábrica que só arrumávamos na força mesmo.
Um dia chega na oficina um italiano furioso dizendo que seu Belcar 67 era uma porcaria, e que dois funileiros já haviam tentado arrumar o capô do motor que não fechava direito. Eu abri o capô do carro e falei para ele: ‘Isso a gente arruma com reza, o senhor acredita em milagres?’. Ele ficou ainda mais furioso e, enquanto eu dizia: ‘tenha fé, tudo vai se resolver’, eu empurrava o capô bem forte para cima, pois sabia que o problema era nas dobradiças. Quando eu abaixei o capô, ele fechou certinho, e o italiano ficou apavorado, queria saber como eu tinha feito aquilo, e falei que foi um milagre. Depois, cada vez que ele ia lá, perguntava: ‘cadê o milagroso?’”, lembra Danillo sob muita risada.
Nos anos 80 Danillo criou uma antena de televisão que todo mundo queria: as Antenas Arco. “Tirei a patente disso, inclusive. Era uma antena giratória, sem fios para enrolar, pois era feita com ‘fio líquido’, tinha apenas um condutor. Um dia, quando eu falei isso para um engenheiro da Ericsson, ele falou que rasgaria seu diploma se eu provasse que era possível. A antena era feita com mercúrio, ou seja, um condutor líquido de energia. Quando eu provei isso ao engenheiro da Ericsson, ele me disse: ‘Como não pensei nisso antes?’. Vendi muitas, montei uma firma para produzir, mas com a evolução das antenas e da televisão ninguém mais queria, então parei com a produção”, conta Danillo.
Hoje Danillo não se cansa de criar, mesmo aposentado com seus 80 anos ele faz artesanato e cria um mundo de coisas interessantes. Ele fez com as próprias mãos um trem elétrico que funciona de verdade e há anos atrás tinha em sua casa um “mini mundo”, uma cidade inteira em miniatura, com ferrovia, serrarias que realmente cortavam lenha; pinta quadros e se diverte na sua oficina. “Como funileiro não tenho do que reclamar. Fiz de tudo, me realizei profissionalmente. É uma vida inteira com o automóvel.”