Quando o mundo entrou na década de 20, uma onda futurista invadiu todos os continentes. As pessoas não sabiam mais o que esperar com a evolução da tecnologia: quais as facilidades e inovações que o automóvel traria; o que esperar da eletricidade e quais outros materiais seriam descobertos e o que estes significariam para suas vidas. No Brasil, essa onda chegaria primeiro às capitais e, no dia 26 de março de 1926, nascia em Franca, cidade distante 401 km da capital paulista, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, um jovem que logo se encantaria e dedicaria sua vida aos motores, engrenagens, mecânica, eletricidade e à velocidade, sempre com o objetivo de inovar e trazer facilidades ao cotidiano das pessoas.
Ainda menino, dono de uma curiosidade grandiosa, seu lugar preferido era junto à oficina de seu avô materno. Lá começou a transformar triciclos em bicicletas, deu vida a várias invenções, máquinas, peças e mecanismos variados. Tal experiência um dia culminaria em um projeto de uma cidade em forma circular dotada de muita área verde, cujas estradas circulariam carros compactos movidos a eletricidade (por ele projetados), e em cada rua dessa cidade haveria tomadas para abastecer esses veículos. Em 2014, a BMW desenvolveu postes de iluminação equipados com tomadas para carregar carros elétricos, projeto piloto que começou a ser testado neste ano, 2015, em Munique, na Alemanha. A empresa criou dois protótipos de postes de “iluminação e recarga”, que combinam luzes LED com estações de recarga para carros elétricos ChargeNow da companhia.
Ao todo, da mente brilhante de Gurgel saíram mais de 100 patentes registradas. No entanto, seu maior legado seria, de fato, no campo automotivo, com a criação de diversos modelos de automóveis, entre compactos, elétricos e off-roads, ganhando não só as ruas do Brasil, mas como de outros países.
Como citamos anteriormente, o lugar preferido de Gurgel, na sua infância, era na oficina de seu avô, onde dava asas ao seu lado criativo e arteiro. Já na adolescência, gostava de ler livros de física e mecânica e, com esses conhecimentos adquiridos, aos 16 anos inventou um revólver a gasolina; a potência não era a mesma da pólvora, mas funcionava.
Em 1942, já conhecido como Amaral Gurgel, ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A capital paulista, já com seu grande movimento de automóveis, serviu de inspiração ao aspirante engenheiro. Logo ele descobriria como reproduzir o método de anodização do alumínio, aplicando-o na fabricação de pistões automotivos, técnica vista antes somente nos EUA. E isso o fez ganhar muito dinheiro. Por conta disso, Gurgel ainda acabaria construindo um hidroplano sobre rodas, ou seja, um veículo multiuso que poderia se locomover tanto no asfalto como sobre a água. Seu motor de avião, de 70 cv, fazia um barulho tremendo, tanto que chamou a atenção da polícia, que por pouco não apreendeu aquela lancha sobre rodas.
Em 1949 Gurgel enfrentaria seu primeiro desafio no campo automobilístico: ao invés de apresentar o projeto de um guindaste de coluna como trabalho de conclusão de curso, o jovem estudante expôs o projeto completo de um carro de passeio (que recebeu o nome de Tião) equipado com um motor de dois cilindros. O professor, em total desacordo, além de não analisar o projeto, ameaçou reprová-lo, dizendo: “Automóvel não se fabrica, se compra! E tecnologia de carro é coisa de multinacional”.
O primeiro emprego de Gurgel foi na Cobrasma, passando posteriormente à empresa de elevadores Atlas, ficando lá apenas uma semana. Nessa mesma época ele ganhou uma bolsa de estudos nos EUA, podendo botar em prática suas habilidades, já que naquele tempo os carros apenas eram montados no Brasil, e nos EUA eram, de fato, fabricados. Lá, então, estagiou na Buick e pôde visitar a linha de montagem do Chevrolet Corvette. Naquele ano a GM começava a fabricar carrocerias em fibra de vidro. Em seu estágio pôde contribuir com sugestões à empresa, que foram acatadas e recompensadas em dinheiro. Quando voltou ao Brasil, em 1953, trouxe consigo todo o know-how adquirido lá.
Com novos conhecimentos, trabalhou na GM do Brasil e depois na Ford, se tornando o engenheiro mais bem pago na época. Contradizendo a montadora, que achava maluquice fabricar veículos no Brasil, mostrou na prática um protótipo de um veículo que a Ford poderia montar aqui. Tal decisão causou desgosto na montadora e, insatisfeito com essa postura de descrença da Ford com relação a ele e seu país, pediu demissão. Assustados, seus antigos chefes lhe perguntaram o que seria de seu futuro, e Gurgel respondeu: “Penso em uma fábrica de carros que vai se chamar Gurgel”, dando início a uma bem-sucedida carreira, dali em diante.
Então, Gurgel deu início à Moplast Moldagem de Plástico, que consistia na concepção de luminosos de fibra, uma ideia pioneira, na qual sua maior cliente seria a Volkswagen. Gurgel também criaria a Mokart, dando início na produção dos primeiros karts de competição no Brasil, um projeto 100% Gurgel (foi abordo desses karts que pilotos como Wilson e Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace foram revelados). Gurgel também criaria minicarros e, para impulsionar a empresa e sua marca, sorteou-os, visando à garotada.
Mas o desejo de Gurgel era de prover seus próprios automóveis, e a ideia começou a tomar forma em 1966, quando também era concessionário da Volkswagen. Com bons contatos, Gurgel apresentou um projeto de veículo ao então presidente da VW, Bobby Schultz-Wenk, convencendo-o a vender, pela primeira vez, um chassi a um particular.
Em 1º de setembro de 1969, o Brasil passava a figurar entre os poucos países abaixo da linha do Equador a ter uma empresa automobilística 100% nacional!
Fonte: Clássicos do Brasil série Gurgel
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