Para muitos, a recente crise, que ocorreu de 2008 a 2012, parece ser a pior no tocante à indústria automobilística. Porém, em meados da década de 70, os tempos foram tão sombrios quanto, embora muitas indústrias conseguissem, dado sua força, enfrentar melhor a crise do que nos anos recentes.
Por exemplo, para os fabricantes de carros de luxo, os anos 70 foram desesperadores. O interessante é que, muitos projetos criados nessa década, foram alguns dos melhores que a indústria já vira, passando a sensação de que esses anos foram de grande sucesso.
Na Bertone e na Lamborghini, por exemplo, não havia tais ilusões. Suas finanças estavam complicadas e a maioria dos carros-conceitos dessa época não passava de meras tentativas desesperadas de marketing visando alguma venda em um mercado de rápido declínio.
Tal era a situação que a Bertone decidiu propor uma alternativa ao Lamborghini Urraco, projeto este de Marcello Gandini, designer-chefe da própria Bertone na época. Tal projeto se chamaria Lamborghini Bravo, um termo em espanhol para designar o touro de luta da marca como sendo ousado e corajoso.
O Bravo deveria ser uma versão mais leve, do tipo 2 + 2, em relação ao Urraco. O veículo entraria em produção em 1974, depois de vários problemas iniciais, principalmente a questão do formato de quatro lugares, não muito popular entre os admiradores da Lamborghini.
A Lamborghini enviou um motor V8 de três litros à Bertone, que o ajustou para 300 cavalos de potência, uma prova de que o veículo deveria ser muito mais que um simples carro de exibição. O motor seria montado de forma transversal, o que obrigou uma modificação no chassi. Gandini começou a redesenhar o Urraco, o que levou um bom tempo até se tornar um novo carro esportivo, e o que emergiu das pranchetas do designer era basicamente uma evolução do Countach.
O para-brisa era inclinado praticamente no mesmo ângulo que o capô, este decorado com vários retângulos, o mesmo acontecendo na traseira, com a finalidade de ventilar o radiador e motor. Havia um equilíbrio elegante em sua forma. O interior era simples. O painel de instrumentos era decorado com uma tira de aço escovado, e os assentos eram cobertos em Alcantara, um novo tecido na época. Motorista e passageiro tinham a sensação de viajar em um carro muito apertado, melhorado graças ao amplo para-brisa, quase que panorâmico.
O Lamborghini Bravo fora apresentado em outubro de 1974 no Salão de Turim, para grande aclamação do público. Pôde ainda ser testado pela imprensa, que teve boa impressão do projeto. No fim, porém, não havia dinheiro para o desenvolvimento e fabricação do Bravo. O Urraco ainda seria produzido até 1979, abrindo caminho, posteriormente, para a Silhouette e o Jalpa. Já o Countach seria o carro-chefe da Lamborghini por 16 anos.
Quanto ao Bravo em si, o veículo fora aposentado e colocado no museu da Bertone. Mesmo parado, recebeu várias atualizações, tanto pintura como mecânica. Mais tarde ele seria vendido no leilão da RM Sotheby’s em 2011, na Villa D’Este, por mais de € 580.000,00.
O Lamborghini Bravo muitas vezes é ignorado por aqueles que contam a história da Lamborghini e a maravilhosa carreira de Gandini. Seu design é mais sutil e elegante do que muitos veículos da época. Ele mostra o potencial e desafios daqueles tempos, as oportunidades conquistadas e perdidas.
Fonte/fotos: www.cardesignnews.com / www.oldconceptcars.com / www.lamborghiniw.com