A Automobile Quarterly era uma revista automotiva de grande prestígio, publicada de 1962 a 2012. Não era uma revista de automóveis normal, pois contava com excelente apelo jornalístico e belas fotografias, e não contava com publicidade. Era para ser um item de colecionador.
Automobile Quarterly
A editora pertencia a Scott Bailey, um experiente consultor de relações públicas, entusiasta do setor automotivo. Bailey atuou nessa área para o Antique Automobile Club of America e, enquanto realizava suas funções, reconheceu a necessidade de um jornal automotivo premium, que transcendesse o formato tradicional das revistas de automóveis à época.
L. Scott Bailey
Empreender projetos assim significava gastar dinheiro. E um desses projetos nada tradicionais (até então também misterioso) levou Bailey a comprar um Mustang 1965 e convencer a Alitalia (maior linha aérea da Itália) a atuar como patrocinadora parcial do projeto, onde a Carrozzeria Bertone seria responsável por reestilizar o veículo, dando um toque europeu ao muscle car americano.
Por que o Mustang? Bailey explicou que poucos carros americanos capturavam tanto o imaginário europeu. Então, a Carrozzeria Bertone, de Turim, foi contratada para projetar e construir uma nova carroceria para o veículo, para ser apresentado em 1965 no New York International Automobile.
Para tanto, nenhum componente mecânico deveria ser alterado, e a cor deveria ser mudada, de vermelho, para algo mais clássico. O veículo entregue a Bertone era um Mustang fastback 2 + 2 (mas não GT), com uma transmissão de quatro velocidades, motor V8 e pneus faixa branca. Bertone indicou um de seus novos designers para liderar o projeto: Giorgetto Giugiaro.
Mustang Fastback 1965
A solução estética de Giugiaro era deixar o veículo mais aerodinâmico. Então, a dianteira fora redesenhada para ficar mais próxima ao chassi, inclinando, para baixo, sua frente. Também fora necessário criar duas pequenas aberturas de ar no capô.
Ainda na frente, o automóvel ganhara quatro faróis retráteis, que se escondiam atrás da grelha do carro. Seu símbolo, centralizado, era a única peça reconhecível do veículo original.
O veículo ganhara um para-brisa traseiro envolvente, muito parecido com o Plymouth Barracuda da época. Os vidros vigia traseiros eram menores, o que acentuava a “caída” em seu visual. O interior fora redesenhado, ganhando vinil em caramelo. Na traseira, os assentos poderiam ser retráteis, para criar um lugar para a bagagem.
A cor escolhida era de um azul metálico claro, de acordo com Bertone. Uma espécie de azul prateado verde, que tinha uma elegância que combinava com as linhas redesenhadas do veículo.
O Mustang Bertone voou, via Alitalia, para Nova Iorque, onde chegou ao Salão do Automóvel. Lá ele recebeu vários elogios e foi ainda agraciado com o “Best in Show” daquele ano. O carro ainda participou de várias outras mostras automotivas pela Europa, em seguida para desaparecer completamente.
Mustang Bertone 1965
Mais tarde, Bertone anunciou o veículo à venda por $ 10,000, cerca de 1/3 do seu custo original. Não se sabe se um comprador surgiu, e quando sua coleção foi liquidada em 2014, o Mustang Bertone não estava entre esses veículos.
Scott Bailey procurou por anos o automóvel, mas em vão. Quem quer que seja o dono, o mantém em segredo, talvez para um dia reaparecer em algum concurso de elegância por aí, mostrando a genialidade de Giugiaro ao redesenhar um ícone norte-americano.
Fonte/fotos: www.cardesignnews.com / www.performance.ford.com / www.carstyling.ru / www.myrod.com / www.nytimes.com